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domingo, 23 de janeiro de 2011

SONETO DE BOCAGE

Minh’alma quer lutar com meu tormento;
Contenda inútil! É por ele o Fado:
Apenas de oprimir-me está cansado
Eterna força lhe refaz o alento:

Mais vale que delire o pensamento
Te agora coa Razão debalde armado;
É menos triste, menos duro o estado
A Desesperação, que o Sofrimento:

A Desesperação soluça e chora,
A Desesperação mi ais desata,
Parte do mal nas queixas se evapora:

O Sofrimento azeda o que recata;
Prende suspiros, lágrimas devora,
Tiraniza, consome, e às vezes mata.

(BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. Poesias, sel. pref. e notas de Guerreiro Murta, Lisboa, Sá da Costa, 1943,p.7)