Minh’alma quer lutar com meu tormento;
Contenda inútil! É por ele o Fado:
Apenas de oprimir-me está cansado
Eterna força lhe refaz o alento:
Mais vale que delire o pensamento
Te agora coa Razão debalde armado;
É menos triste, menos duro o estado
A Desesperação, que o Sofrimento:
A Desesperação soluça e chora,
A Desesperação mi ais desata,
Parte do mal nas queixas se evapora:
O Sofrimento azeda o que recata;
Prende suspiros, lágrimas devora,
Tiraniza, consome, e às vezes mata.
(BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. Poesias, sel. pref. e notas de Guerreiro Murta, Lisboa, Sá da Costa, 1943,p.7)