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domingo, 30 de janeiro de 2011

TEMAS ETERNOS

Há sempre um amor procurando seu nome
Na solidão do livro dos tempos.

Há sempre uma veste nupcial
Pendendo da guilhotina da noite.

Há sempre restos do Minotauro
A escurecer os campos tranquilos.

Há sempre um olhar espiando o horizonte,
um olhar que não foi visto.

(Murilo Mendes)

BEIRA-MAR

Eu consultei o mito,
Interroguei o céu que marcha:

Debato-me na gaiola do mundo
Até que me envolva o futuro.

Luzes ambíguas dançam,
Homens deslocam o busto
E a esfinge prepara lentamente
O avesso da sua responsa.

Onda que vais, onda que vens,
Dá-me notícias de mim mesmo.

(Murilo Mendes)

domingo, 23 de janeiro de 2011

BONECA DE PANO

BONECA DE PANO

Boneca de pano dos olhos de conta,
vestido de chita,
cabelo de fita,
cheinha de lã.
De dia, de noite, os olhos abertos,
olhando os bonecos que sabem marchar,
calungas de mola que sabem pular.
Boneca de pano que cai:
não se quebra, que custa um tostão.
Boneca de pano das meninas infelizes que
são guias de aleijados, que apanham pontas
de cigarro, que mendigam nas esquinas, coitadas!
Boneca de pano de rosto parado como essas meninas.
Boneca sujinha, cheinha de lã. -
Os olhos de conta caíram. Ceguinha
rolou na sarjeta. O homem do lixo a levou,
coberta de lama, nuinha,
como quis Nosso Senhor.

(Jorge de Lima)

PLANTAS

PLANTAS

Não apeiba simbalanea,

o teu nome, conterrânea, é Embira Branca,
Pau-de-jangada, simplesmente,
com que o homem das praias
vence as ondas
e ferra o tubarão,

o mero.
a arraia.

Copaúba, dendê, coco pindoba,
pau-d'arco cor de oiro,

camará cor de luar,
sapucaia cor-de-rosa.
canafístula cor de feridas;
já não há
mais pau-brasil

mas há plantas que dão
pão,
sal,
azeite.
água.
pano,

remédios,
carrapetas,
taramelas,
e há a cana que dá tudo,
porque dá ao homem triste dessas terras
a alegria cor de brasa da embriaguez
e o esquecimento cor de cinza que vem dela.

(Jorge de Lima)

POEMINHAS

Cuidado (Quem Vê Cara ...)


O medo tem olho humano
O ódio voz de paquera
O terror cara de gente
O amor fúria de fera.


Poeminha de Homenagem ao
Hiperavangardismo



Tão pra frente, tão pra frente
Que nunca fez como a gente
Que sempre chega atrasado.
Mas uma vez, desesperado,
Viu que tinha exagerado,
No passar pra trás, no tempo,
Mesmo os mais avangardantes;
Pois saiu de casa um dia
E voltou um dia antes.

Poeminha sem Nexo
Queixa



Liderar não é nada duro;
As perguntas são todas no presente,
As respostas são todas no futuro.


Poeminha sem Nexo
Approach


Uísque você toma
De qualquer jeito;
Cachaça tem que ter
Muito respeito.

POEMINHAS

Poisea

Clara cloro puru
More Mara Taipé
Cloro Clara Guru
Lento Coméquié.
Canta Tutu Cantiga
Riga Santiga Taro
Raro Manero Puro
Tanta Canta Monaro.


Poeminha (Bem) Moderato


Hora de beber; parcimônia,
Hora de falar; discrição,
Hora de comer; continência,
Hora de amar - (muita) atenção.


Poeminha à Glória Televisiva


Não me contem!
Ele era tão famoso
Antes de ontem!


Certidão
Poeminha à Certeza Total



Eu sei, rapaz, confesso
Que estava errado ontem
E você, certo.
Mas você não estava certo
De que eu estava errado.
Eu, desde o início,
Admiti a hipótese
De você estar certo.
Politicamente eu agia errado.
Mas estava aberto no meu erro.
Você, fechado, em defesa,
Amedrontado na sua certeza.
Errado, espiritualmente
eu estava certo
E você, certo, se apoiava

Numa atitude humana viciada.
Tranqüilo, aqui estou eu, errado.
Certo, afirmado,
Certamente você está muito magoado.

(Millor Fernandes)

POEMINHAS

Poeminha

(Contra o turismo organizado, férias
programadas e outras indústrias)

Que é que posso fazer,
Se o trabalho é meu lazer?


Poeminha com Estalo de Vieira


Entendi:
Sofisticação
Contestação
Liberação
É só sentar no chão.


Poeminha em Busca de Identidade

Quando estamos reunidos
No high society
Procuramos distinguir
os bem-nascidos
dos mal-nascidos.
Mas em outro mundo
mais mal nutrido
só indagamos:
terão nascido?

(Millor Fernandes)