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domingo, 23 de janeiro de 2011

AUTOPSICOGRAFIA

AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razaão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

(Poesias de Fernando Pessoa, Obras Completas de Fernando Pessoa, Lisboa, Ática, 1951, p.237)